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Ver uma pessoa com deficiência em escola significa verdadeiramente “inclusão”?

No dia 14 de abril, foi Dia Nacional da Luta pela Educação Inclusiva e vou compartilhar uma reflexão de um autista nível 3 de suporte, o Autistão, como ele se nomeia. Escritor, sim, isso mesmo o grande escritor Fernando Murilo Bonato:

“Ver uma pessoa deficiente em escola significa verdadeiramente “inclusão”?

Ser aluno empático é ser aluno educado no pertencimento ao amor sem barreiras. A barreira de inclusão primeiramente deve acabar quando parar de ser usada a frase. “Nossa escola é inclusiva, temos muitos autistas?”
Autistas estão na escola por obrigação ou por verdade em evolução?

Autistas são apesar de autistas pessoas. Muitos me olham ainda como ET, como um ser de outro planeta. Outros me veem como coitado. E pobres os que me veem como incapaz.

Ser incapaz, é ser pertencente a desistência. Eu de verdade apronto com minha presença ilustre em sala, mas não sou incapaz como muitos pensam. E não desisto como pensam. Eu sou resistência a tipicidade. Sou resistência a vida padrão. Sou resistência ao inconformismo de minha pobre fala.

Ser aluno autista com pobre fala é a pobre angústia de meus professores. Alguns perguntam a seu próprio pensamento. “O que faz na escola esse autistão?”

Na verdade, faço pouco. Mas tenho laudo. E quem não tem laudo de autista autistão não faz por quê? A resposta deve ser pessoal. Porque somos únicos. E cada um que se escore na sua muleta mental.

Mas amigo diretor, eu autistão agradeço e quero falar…. Você é pessoa empática. Me faz acreditar que num futuro não será mais necessária essa data. A conscientização é necessária para que haja mudanças. Mas atitudes do dia a dia fazem a mudança acontecer. Você me fez autistão acreditar que toda vida importa na sociedade escolar.

Ver autistas camuflados na escola é rotina. Mas autistões são uma vitória contra sistema fechado de padrões. Sei que incomodo, sou estranho, faço besteira, mas não sou “deseducado”. Na verdade, desengonçado e meio sem noção. Mas devo falar não conheço muitos alunos com noção ou que não façam besteira.

A prova viva da minha sentença em prisão de escola é saber que um dia serei livre. E neste dia vou olhar para trás e ver que nada foi em vão. Todo meu poder de ser eu, tão eu, é resultado de vivências. E viver falhadamente em escola é viver minha realidade. E sempre que falar em meu autismo, não é falar sobre inclusão, mas sobre empatia.

Com cabeça fervendo textos, pensando textos, respirando textos, sonhando textos, uma mente hiperativa que foge para rituais que chamam de TOC onde minha mente tem milésimos de folga. Sem ver muitos filmes, livros diferentes, pois tudo vira texto.

E como autistão sem domínio de escrita, preciso ditar para minha pessoa amada. Sim estou no ensino médio e não consigo organizar letras para formarem palavras.

Sou um leitor que não gosta de ler. Não quero outras fontes além de minha observação. Ser eu é ser rígido em fazer o que não vejo importância. Falo abertamente pois sou autistão e autistão não tem filtro.

Minha vida é sem amigos em escola, não sei ser social como adolescentes. Não sei interagir. Como cobrar que interajam comigo? De verdade ser eu é ser fiasquento, é ser autêntico, sem chupeta virtual. Não gosto de chupeta virtual. Nenhum celular ou computador irá me prender.

Sou livre, faço trilhas, pedalo, e pasmem sou autistão. Arrumo minha cama, lavo louça, seco. Penduro roupas, dobro e varro casa. Sei cuidar de mim.

Mas não sou independente por não me comunicar efetivamente. Isso é duro. Mais duro é ter consciência e não progredir o suficiente. Mas são mistérios da minha mente. E todo esse textão é para conscientizar de que autismo não é simples, mas é a realidade de infinitas pessoas em diferentes modos.

E respeitar é entender e ser empático é tratar toda pessoa como gostaria de ser tratado.”

Acredito que com essa brilhante fala de um autistão que me faz entender tanto meu filho que também é nível 3 e não fala, não é necessário acrescentar algo. Semana que vem tem mais, aguardo você!

Adriana Guimarães

Bióloga e Pedagoga, Professora da Educação Especial, Ativista Social-Mãeromba, Membro do Conselho da Pessoa com Deficiência em Rafard, mãe de um garotinho autista de 8 anos, o Raonic. Se quiser receber notícias sobre inclusão e acessibilidade e desejar fazer parte da minha lista de transmissão me chame whats (19) 99398-0478.

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